ASCENSÃO
Quando falamos de quinta-feira de ascensão, fora da linguagem cristã, do que falamos de facto?
Estamos a mais de metade da Primavera, celebrando no dia de Júpiter a ascensão do Sol até ao seu mais alto ponto que será no Solstício de Verão.
Colhemos a espiga que celebra o Deus Homem Verde do bosque brotando em toda a sua erupção de Vida, cobrindo a Terra Mãe de onde veio e à qual retornará.
É o ciclo da vida: da semente à flor, da flor ao fruto, do fruto ao composto que de novo revelará a semente do que (re)nascerá.
Ascender não é ir para outro lugar, não é separar a Alma do Mundo mas antes celebrar a união de toda a Alma da Terra Viva manifestada no reino vegetal e animal e no seu matrimónio sagrado a cada dia.
É celebrar a potência da Vida no seu auge ígneo, brotando selvagem para a nutrição de tudo e todos. E guardar a sua lembrança, quando o calor tórrido e estéril do verão vier e as noites frias e duras de Inverno nos abraçarem. Ascender é saber que há uma roda da Vida, onde descemos e subimos ciclicamente.
No corpo como na Alma: quão essencial é resgatar a força e importância do ciclo e deixar de estar no cume, para saber peregrinar entre os vales e montanhas da vida, entre o chão coração e os céus? Caminhando na impermanência consciente que é a continuidade da Vida, entre nascimento e morte, morte e nascimento tecendo a Amor cada fase e encontro, sem excepção.
Ascender é ter a força do Sol, mas também a da vagem que brota resiliente e astuta, transformando a sua frágil pequenez no poder de existir em pleno direito de Ser.
Ascender de bolota a carvalho, de azeitona a oliveira, atravessando tempestade, Inverno, transformando desafio em oportunidade, flexibilidade em estrutura, na presença e humildade do tempo e de ser que de pequeno se faz grande e sendo grande serve os demais em tudo aquilo que é, de todos os lugares de si.
Ascendamos pois, mas enraizados na Terra, como a Árvore da Vida que daí se estende como casa, ninho, sombra, fruto, expandindo em união até aos céus infinitos.
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