10
Set

CANDELÁRIA

Estamos no limiar, na metade do Inverno que prenuncia o fim lento e gradual do frio e sua transformação em calor Primaveril.
Cailleach atravessa a noite no seu lobo alado.
Cailleach Bheur, Velha Senhora da montanha traz a neve e o gelo, voando nos céus branca e esparsa.
Em muitas tradições nativas tudo o que da Natureza Viva faz parte é nosso parente: não apenas pai e,mãe, mas tio, tia, irmão e irmã, primo e prima, avó e avô. Diferentes relações e graus de parentesco.
Cailleach da neve é assim avó de Brigantia. Ela traz o gelo que nutre o futuro, a água que fluída dará a vida às sementes que virão, já não para si mas para quem se segue.
A Candelária é um limiar: transição entre o dentro do chão e o despontar da superfície da Terra. Da escuridão nocturna à gradual luminosidade diurna crescente. Do frio intenso ao gradual aquecer. Da ancestralidade da Avó à renovação da neta que é fogo, foco vivo, nutrido pelo bem querer passado que lhe dá chão para ser e vicejar abundante. Para atravessar o limiar há que ir de-va-gar.
O coração da neve é ardente como gelo. Porque é de fogo, o fogo imperecível do Espírito.
A candeia acalenta na noite, ilumina na sombra, aquece no frio. Pequena chama, pequena semente e portanto pleno poder de Ser em potencial de crescimento absoluto.
Na Candelária, o fogo interno une-se à Água que verte dos seios da Mãe: celebra-se, ainda numa outra camada, a via láctea. A Mãe que traz a água das estrelas para com ela nutrir as sementes da Terra e assegurar a continuidade da Vida. A branca via visível do Inverno nocturno, nutrindo o mundo na hora sonhada até ao despontar da alba madrugada.
Se o teu coração é dádiva generosa pois deixa cair o seu néctar, doa a tua luz solar sem te diminuíres, porque a nossa natureza solar precisa de ver e ser vista na sua total amplitude. O Sol brilha para tudo e todos, mais que para Si.
A chama traz o chamamento: desperta de dentro do Inverno, do Interno e, segurando a candeia da vulnerável porém imperecível chama do coração, atravessa o Inferno.
Cresce.
Candeia tradicional de água e azeite.
Não se misturam e na verdade são complementares: um contém o fogo, o outro nutre a chama.
Assim sejamos.

Fevereiro 2020