10
Set

CORPO

CORPO TERRA
CORPO POTÊNCIA
CORPO SEMENTE
CORPO PÁSSARO
CORPO SENSÍVEL
CORPO UNIVERSO
CORPO MEDICINA

Esta semana encerra com brilho no olhar, de tanto desbravar espaços do corpo.
Neste corpo moram tantas vidas, sempre em transformação.
Neste corpo mora ADN celta, magrebino, basco, judaico sefardita, africano, francês, galego, português da Beira alta, da Beira baixa, de Lisboa e de Sintra.
Este corpo gerou um filho com toda esta mescla e ainda, por parte de Pai, Inglaterra, Escócia, Brasil, Madeira, Rússia, Mongólia.
A mestiçagem nunca é linear, mas é a nossa maior riqueza.

Neste corpo moram as vozes de parteiras, curandeiras, benzedeiras, ervideiras, semeadeiras, aguadeiras, varinas, pastoras, carpideiras.
Moram memórias em constante criação de um eu que nunca é apenas individual e é por isso infinito e permeia a relação com tudo e todos em diferentes ritmos e distâncias.
Mais do que morada, corpo é Raíz viva sem a qual pertença, sentido e propósito não têm como ser tecidos.

Então, agradeço a dança.
Que hoje, ontem, amanhã, a cada dia, é tempo de cerimónia porque o sagrado é sangrado. É sangue, seiva, fluxo.
Somos essa correnteza fluida do rio e a margem estrutural que o acolhe sem restringir.
Corpo é cor.
Cor é coração.
Coração é oração.
Oração é acção.

Que o dia seja na abertura de tonalidades múltiplas.
Em gratidão e a mais selvagem liberdade, que é dignidade para honrar o tanto Amor que a vida nos dá.
Só em liberdade podemos honrar a vida sem a afunilar a pequenas visões e lugares.
Ah sim, da, sua forma íntima e única, corpo é liberdade crua da alma anima animal que nos anima.