EMPATIA RADICAL

E Se…
Em vez de aceitarmos a violência social inerente à cultura, que se baseia sempre na díade agressor /vítima, quer em lugares estanques onde o papel é sempre o mesmo para a mesma pessoa, que em lugares alternados, onde a mesma pessoa é vítima e se torna um agressor, ou é ambos simultaneamente, víssemos em cada relação uma oportunidade de incluir, dar visibilidade e desconstruir os lugares onde a díade opera, dando finalmente a oportunidade de não aceitar o inaceitável para poder transformar a dor não só em cura mas na mais radical empatia e transversal compaixão para vítimas agredidas e vítimas agressoras?
A banalização é uma das mais perversas formas de agressão. Não normalizar é o que permite dar a sentir a dimensão das feridas para cuidar a necessária reparação.

Talvez neste momento de caos possamos acolher a oportunidade de desconstruir em vez de continuar a edificar crenças e comportamentos em fundações podres.
Tempo dos escombros, de peneirar atentamente a nossa própria percepção. Talvez dando tempo ao lugar do desfazer possa finalmente brotar, sem qualquer artificialidade de intenção, a espontaneidade da Vida da Alma, e daí possamos escutar-nos uns aos outros e a tudo o que vive.

A empatia radical, a das raízes, é sobretudo desconstrução da identidade pessoal e cultural para abrir espaços de regeneração do equilíbrio.
Acarinho muito as propostas de desassossego evolutivo que emergem dos tempos.

Aprecio não ter verdades fixas, objectivas ou impressionantes a oferecer. Sempre que me visitam, inundo- as de questões de respostas abertas, daquelas que não podemos perder de vista, para não ceder à tentação de me converter às minhas próprias crenças e manter-me humilde perante o que emana a cada momento, encontro, desencontro.

Mais do que bem estar, fundamental é a conexão. Sustentar o vínculo, os seus limites, os seus desafios e milagres amorosos. A sua ciclicidade.
Se dói, estamos aqui, nesta presença.
Se é maravilhoso também.
E o tanto todo entre isto.

Hoje é um belíssimo dia de chuva. Como cada gota se liga a tudo o que toca e adentrando a Terra semeia o Rio e o oceano!
É assim dia de honrar as Águas e o acalento do Fogo.