
ERVAS DANINHAS DO ESPÍRITO INDOMÁVEL
Sim, na noite que se adensa há fogo firme
Sim, meu corpo que se abre é todo Terra
Sim, em Terra onde há Amor perece a guerra
Sim, o chamado retorna e não se esquece
Sim, há fogo que consome e não esmorece
Sim, é hora de acolher a intensidade
A forja é falo e ventre e é Verdade
Só temos duas escolhas a fazer: todo o caminho é crescer ou morrer
Sim, minha vulva é Terra e seiva e imensidão
Sim, meu ventre é escuro e pleno é puro chão
Sim, o falo deste Deus Homem Animal
É Alma, Sol, Semente, Pólen, Sémen, Coração
Só desta trança viva se ergue vida em toda a Terra
Este fogo é o da transformação
Fogo do ardor
Fogo do tesão
Fogo que nos lembra que é hora
Que o chamado está vivo e está aqui
Erguemo-nos de novo de dentro dos caminhos
Ervas daninhas do Espírito indomável
Chegou o tempo da verdade primeira
Sem metáfora, sem pastor, sem mensageiro
Seremos a escuta por inteiro
A soberania em tudo e em todos
Seremos voz e corpo consumido e renascido
Seremos o destino aqui tecido
Na fina teia que tudo permeia
Por todas as relações, sem excepção
Que ser erga a Vida Verde que dissemina
Que se erga o Veado e o Javali
Que se erga a dignidade que me evoca
Sou filha da Mãe de quem nasci
Faça-se com verdade, coragem, potência minha vida aqui
Temos chifres e patas de cabra
Porque cada um veio para ir onde ninguém ainda foi
Temos lama que se torna pele
Resiliência que nos orienta
Que é firmeza sem rigidez
Terra solta. sem aridez
Seiva pura que sangue, sémen e fluxo se fez
Temos que nos vir para existir
Porque sem chegar ninguém se é
O Amor aprende-se quando o corpo é chão, leito de rio
Céu estrelado, fogo, cinza, pó
Pedra terna
Paixão e compaixão na noite inteira
Na alvorada e no entardecer
O Céu será rasgado pelo trovão
A Terra será rasgada pela semente
O vento que é sopro ofegante
Trará o bago, a erva e o grão
Do nosso corpo, mãos e toque firme
O grão se fará pão
Como se rasga a Terra assim rasga o coração
Onde não há espaço não há fertilidade
O Sexo não é nosso, somos dele
É a vontade da Terra e Céu, da criação
Criando Vida, raíz, evolução
Uma oferenda que através de nós se manifesta
Que a força da Vida não tem amo nem aresta
Que a impeçam de brotar
Maia é a visão do que há-de vir
De quem nos teremos que tornar
Sementes são depostas aqui
Para o caminho que temos a criar
Cumpra-se aqui o eco da renovação
Que só na rebeldia, na fúria amorosa
Se Dá
Assim foi, Assim É, Assim Será
Para quem esteve, para quem está, para quem estará
Cumpra-se Maia verde, firme, suave e seiva
Cumpra-se Maio Maduro que se ergue e solta
Cumpra-se a Vida Selvagem
E a Alma que se rebela
Para caminharmos novamente
Em Beleza
Por entre a Terra
Foto da Maravilhosa Mizé Jacinto
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