EXISTIR E PERSISTIR
Dentro da Terra há ovos, raízes, sementes.
Parecia estéril e fria.
Bastou adentrar para descobrir que a vida dorme na gestação para sonhar o que há – de ser.
Amo o frio do Inverno e a humildade que me traz.
Nas palavras irmãs humidade e humildade encontro a dignidade de ser, também eu, um pequeno ovo que dorme no ventre da Vida que sonha.
Para os antigos povos tribais, o sonho é a forma Maior de Visão enquanto percepção lúcida da Vida, do mundo e de si próprio inseparável da teia intrincada.
Sonhando somos sonhad@s.
No repouso há a infinita Fertilidade da gestação.
Reformular a cultura do tempo de Inverno para um tempo interno, de partilha do calor, do caldo, do conto, do colo é a única possibilidade de saciar a fome da Alma.
Não aguentamos mais a pressão de uma produtividade fora de época que nos destituí do sentido de viver e da pertença ao nosso tempo de vida, enlaçada à sazonalidade orgânica e organizada sem calendário da Terra.
Hoje, honro o chá quente na mão, as palavras que jorram como lucidez da pequena chama interna da candeia brilhando na noite. Não é preciso mais. Aqui, é o bastante.
O suficiente é a maior forma de abundância.
Quando cai o excesso, há a integridade de não destituir nada a mais nem a menos de nenhum lugar nosso, dos outros, da Terra.
O ovo, a semente têm a resiliência de persistir para existir. Sem segurança que acomoda, somente na transformação constante de si e do chão que os acolhe e do tempo. O que nos ensina?
Aqui, viemos para ser sementes e ovos. Para sermos gerados num sonho lúcido, até ser Vida e caminho.
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