PÉS DESCALÇOS NA NEVE
Da sua quente casa Nicolau pensava em quem tinha dedos das mãos e pés queimados por neve.
O Inverno chega e o frio é cortante.
Nicolau fia e pede a fiandeiras lã para meias, muitas meias.
Quer levá-las a quem anda e dorme descalço na neve. Pés gelados são dor e morte. Pés gelados são desconsolo letal dos invisíveis.
Nicolau recolhe as meias e também alimentos, sai da casa quente e do braseiro em chamas, caminha pela montanha e demora a chegar. A neve cobre o caminho e o gelo escorrega, só tem por companhia a fé que o move é leva.
Deixa par a par de meias, a quem vê descalço. Meias cardadas, quentes, protectoras.
Ninguém pode dar tudo mas todos podemos dar alguma coisa.
Nicolau tornou – se pai do Inverno mas foi homem. Dos que fizeram do caminho de vida devoção : que é o devir (destino) tecido na acção, que não é somente para nós mas para quem dela pode beneficiar.
Nicolau é uma das histórias de Natal que vale a pena contar.
Porque todos precisamos de aprender a dar mais do que pedimos e a agradecer o imenso privilégio que nos foi dado, de ter tanto, tão facilmente.
Possamos retornar uns aos outros e à Terra a cada dia e passo a passo, um pouco mais do que retiramos.
Se Nicolau aprendeu a fazer meias e a caminhar na neve carregado para poder doar, que nos lembremos que há possibilidade, seja onde for.
O caminho começa no reconhecimento e gratidão ao que se tem e a quem falta. É aí que se tece reparação.
Tecendo e encantando alento para o frio do corpo e do coração.
Arte do meu Filho, D. Garcia Cook, Dezembro 2020
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